Muito interessante a discussão que se vem a desenrolar, nos últimos dias, no LXSustentável, sobre o Túnel do Marquês, a questão das auto-estradas na mobilidade sustentável das cidades – e que agora se expandiu para a questão da Terceira Travessia do Tejo. Como colocámos as questões, vamos agora dar as respostas dos nossos leitores.
Em relação ao primeiro texto, do Túnel do Marquês, o nosso leitor Carlos afirma que esta obra “contribui claramente para a entrada de mais viaturas em Lisboa”. “É o que acontece sempre que se melhoram os acessos rodoviários. Mas o mesmo acontece, felizmente, com a melhoria da rede do metropolitano. Quanto maior a distribuição das pessoas pelos variados tipos de transporte, mais sustentável a nossa Lisboa se tornará”, continua o nosso leitor.
O nosso leitor António Pedro Farinha coloca outra questão – paralela a esta – sobre a Terceira Travessia do Tejo. “A Terceira Travessia do Tejo prevê no seu ano de conclusão mais 38 mil veículos a entrarem em Lisboa por dia. Alguém se importa? Alguém contesta? Alguém critica?”, questiona o leitor.
Uma questão muito pertinente e que se incluirá, também, neste texto que escrevemos na quinta-feira sobre as consequências da construção de auto-estradas junto das cidades.
Em relação ao Túnel do Marquês, António Pedro Farinha admite que este resolveu “um problema sério de trânsito”. Mas acrescenta: “O ideal seriam restrições draconianas à circulação automóvel poluente nas grandes cidades, supridas por transporte público de qualidade e de oferta diversificada”, explica. E conclui. “Enquanto alinharmos por ideologias em vez de ideias, nada de essencialmente diferente se fará”.
Voltando atrás e falando agora especificamente deste texto, o nosso leitor Carlos comentou que “quanto maior a distância entre a zona onde se reside e o local de trabalho, maior será a tendência para usar a viatura própria”. E porquê? “[Porque] a probabilidade de obter transportes eficientes que nos façam chegar rapidamente ao trabalho, a casa ou a outros locais é bastante menor.”
A solução? “Concordaria que ao invés de se construírem mais auto-estradas rodoviárias passassem a construir-se auto-estradas ferroviárias. As que temos na região de Lisboa são claramente insuficientes”, explicou. E, finalmente, a questão do carro eléctrico. “Julgo, também, que a implementação do carro eléctrico em Portugal fará abrandar ainda mais o investimento na ferrovia, caso este último tivesse como principal argumento de desenvolvimento a sua sustentabilidade”.
Obrigado a todos pelos comentários e continuem a exprimir as vossas opiniões sobre a sustentabilidade em Lisboa. As vossas ideias são sempre bem-vindas.
De Paulo Alves Santos a 30 de Março de 2010 às 22:59
Concordo a 100% com os comentários dos dois leitores. O Túnel do Marquês. de facto, resolveu alguns problemas a curto prazo, mas no futuro poderá criar mais. A questão da Terceira Travessia do Tejo também é muito pertinente. O que irão fazer esses carros em Lisboa? Não seria melhor desenvolver os transportes ferroviários com mais comboios, a diferentes horas, para dar mais hipóteses a quem trabalha em LIsboa mas vive a alguns quilómetros de ter qualidade de vida?
De Phil a 31 de Março de 2010 às 10:52
E que tal portagens à entrada da cidade?!?!
Creio que será a única forma de contornar o excesso de veículos que todos os dias infestam Lisboa!
e até se poderá usar esse dinheiro para melhorar ainda mais a rede de transportes da Área Metropolitana de Lisboa.
(e esta ideia não é nova, já a ouvi em muitos sitio e por muita gente...)
Eu tenho carro, também o uso nas minhas deslocações a Lisboa, mas prefiro utilizar as alternativas...
De Sérgio Miranda a 31 de Março de 2010 às 11:59
Não me parece que o Túnel do Marquês tenha assim um papel tão activo na entrada de mais veículos em Lisboa.
Não o vejo como um meio de acesso à cidade, está já no centro e parece-me mais um modo de melhorar a circulação interna do que a admisão de veículos.
Pode acontecer que eliminar este bottleneck no final da A5 ajude ao escoamento de tráfego, mas aí o problema não é o acesso à cidade pelo Marquês, mas sim pela A5.
Colocar um tampão no final de cada auto-estrada de acesso à cidade (tipo Calçada de carriche e A8, etc...) não resolve o problema, só o piora.
Os carros para não entrarem na cidade, têm de ficar parados em casa e não numa fila de transito às portas desta.Quando aí chegam, já não vão deixar de entrar.
Estes "tampões" só provocam poluição e gastos desnecessários.
Portagens à entrada de Lisboa? Essa é uma das ideias que fica no livro das a implementar daqui a 20 anos ou 30 anos
Até lá não acredito que apareça nenhum governante com coragem para tal sem que meio mundo (leia-se população da AML) lhe caia em cima.
Dêem 10-12 anos no mínimo para o Metro terminar a expansão que tem prevista e pode ser que isso seja remotamente possível se for uma expansão bem feita acompanhada de estacionamentos e outras ligações.
De Phil a 31 de Março de 2010 às 15:53
Creio que é totalmente insustentável a cidade aguentar mais "10-12 anos no mínimo"...
Algo tem de ser feito urgentemente! Meias medidas, como sejam o estacionamento pago, a luta contra o estacionamento ilegal, ou até a criação de novas alternativas de transporte, pouco vão fazer se não houver um "tampão" geral a esta debandada diária de milhares e milhares de automóveis...
...em que, cerca de 70%, trazem apenas um passageiro!
De Sérgio Miranda a 31 de Março de 2010 às 18:10
Nunca me parece que possa piorar muito mais ao ponto de haver uma vontade popular de mudança séria.
Já é mau, vai continuar a ser mau e continuar a piorar aos "poucos".
Os problemas serão os mesmos, mas continuamente mais graves. As queixas serão as mesmas, mas mais frequentes. No fim se o estacionamento for mais caro ou difícil de encontrar, se a a ida para o trabalho demorar mais 10min ou algo do género o português refila, mas acomoda-se. Mais não seja, começa a estacionar em cima do passeio ou a pagar ao arrumador para avariar o parquímetro.
Quem tem o poder de decisão nunca vai ter coragem de assumir medidas duras e altamente penalizantes e controversas como "portagens para entrar em Lisboa", sobretudo em período de crise como estamos e vamos continuar.
O António Costa nem o Orçamento vê aprovado quanto mais portagens na cidade! Contentores, licenciamentos, orçamentos...não há uma medida tomada em Lisboa que não envolva as guerrinhas partidárias nojentas e os habituais "diz que disse", "prometeu e não cumpriu","isso vem do meu antecessor". A politica está, tal como a cidade, podre. Esperar deles a mudança é depositar confiança a fundo perdido
Lisboa tem um bocadinho aquilo que merece. Entregou-se à especulação imobiliária, assistiu à população fugir para os arredores sem nada fazer nada de substancial excepto dar-lhe mais e melhores meios de se deslocarem mais e de mais longe..
Agora tem velhos, lojas e escritórios num centro cada vez mais deserto de habitantes e cheio de empregados (com excepções, claro).
No fundo, julgo que esta questão dos movimentos pendulares, da massa de veículos que entra diariamente na cidade praticamente vazios e afins nunca vai mudar se uma grande parte dessa população que se desloca diariamente para trabalhar na cidade não se fixar em Lisboa, e assim deixarem de achar vantajoso fazer 20, 30, 50 ou mais Kms para ir trabalhar.
Não basta pôr um tampão no fluxo que continua a aumentar.
Eventualmente, essa rolha vai saltar.
É preciso dar a esse fluxo um motivo para não existir.
Uma rolha é exactamente uma "meia-medida" porque não resolve o problema, apenas o disfarça até certo ponto.
Como essa mudança realisticamente NUNCA vai acontecer nos próximos anos, nem julgo eu na próxima década...meias medidas, planos, estudos, projectos, boas intenções e tudo o mais que já estamos habituados será o que teremos.
De Antonio Pedro Farinha a 7 de Abril de 2010 às 20:36
uma correção à transcrição correcta de uma afirmação errada" “A Terceira Travessia do Tejo prevê no seu ano de conclusão 38 mil veículos a entrarem em Lisboa por dia. Não são mais 38 mil porque a TTT irá absorver tráfego das duas pontes adjacentes, mas estudos prevêem um acrescímo de 17000 veículos dia em Lisboa, nada de negligenciável portanto.
De Sérgio Miranda a 8 de Abril de 2010 às 15:20
Manuel Salgado, em entrevista ao publico:
"Lisboa vive uma situação absolutamente dramática em termos de falta de população. E também distorcida: temos um pouco menos de meio milhão de habitantes e 26 mil fogos municipais. Mais de metade destas 500 mil pessoas não pertencem à população activa. Só para se ter uma noção da gravidade da situação, Barcelona tem 1,7 milhões de habitantes e nove mil fogos municipais de habitação social.
(Público:)É uma cidade de velhos...
... de velhos e de pobres, à qual afluem diariamente mais pessoas do que aquelas que cá vivem. As receitas municipais têm vindo a diminuir nos últimos dez anos por via da saída de empresas e de gente. É indispensável um consenso entre todas as forças políticas para pormos em prática medidas que invertam esta tendência. "
Acho que está tudo dito.
Só falta mudar.
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