Só quando houver “desastres absolutos”. Foi esta a resposta dada pelo presidente do Painel Intergovernamental da ONU, Rajendra Pachauri, quando questionado sobre “certezas absolutas” para acreditar nas previsões (alarmistas) sobre alterações climáticas.
Ou melhor, Pachauri, que falava ontem durante uma conferência na Fundação Calouste Gulbenkian, disse que os efeitos das alterações climáticas no Planeta era tão “inequívocos” que era “difícil ter certezas absolutas” quanto aos efeitos negativos do aumento da temperatura através da acção humana. Isto porque, quando houver essas mesmas certezas, já estamos na fase do “desastre absoluto”.
Era preciso ser mais explícito?
O responsável disse também que o risco dos piores cenários se concretizarem eram suficientes para podermos concluir que, se continuarmos a consumir recursos como temos feito nos últimos cem anos, a vida de milhares de milhões de pessoas pode tornar-se insustentável do ponto de vista da nossa alimentação, ambiente, saúde, segurança e economia.
Citado pela Agência Lusa, Rajendra Pachauri falou também de Portugal e antecipou o cenário do nosso país dentro de algumas décadas: menos água, mais e piores secas, (ainda) mais fogos florestais, mais ondas de calor, quebras na produção agrícola, perdas de biodiversidade e perda de receitas no turismo.
O último relatório do Painel Intergovernamental da ONU concluiu que as emissões de gases de estufa só poderão continuar a subir até 2015. Pachauri disse que diminuir estas emissões era possível com as tecnologias actuais, sendo que isso só significará uma perda de riqueza na ordem dos 3% do PIB global em 2030, algo que poderá ser recuperado em “poucos meses ou num ano”.
“Gasta-se 450 mil milhões de euros em publicidade que encoraja a manter os padrões de consumo habituais. Não haverá uma parte deste dinheiro para gastar em energias renováveis?”, questionou Pachauri.
E mais: segundo o responsável, a actual crise económica está a adiar as medidas necessárias para reduzir as emissões de carbono, sendo que é certo que “temos” que as reduzir a curto prazo para “ter benefícios a médio e longo prazo”.
Finalmente, Pachauri desabafou e explicou a dificuldade do organismo que dirige em “comunicar com o público”. “[Os cientistas] são péssimos [a comunicar com o público]. Não estamos a usar os argumentos certos”, finalizou.